Recife, 06 de dezembro de 2013

“A humanidade de luto”, por Priscila Krause

A humanidade de luto

Por Priscila Krause

O dia 5 de dezembro de 2013 ficará marcado para sempre no calendário de tristezas de humanidade. Morreu Nelson Mandela, cumprindo o que prometeu: “Quando eu entrar na humanidade, terei o sorriso nos lábios”.

Difícil, senão impossível medir e comparar a grandeza dos heróis.

Mandela nasceu em berço de ódio: uma nação dividida pela cor da pele, apartada pelo conflito racial e movida por uma guerra sangrenta de destruição. Cresceu nos campos da batalha política: no começo como ativista de movimentos pacíficos mesmo diante da violência policial; em seguida, por conta do massacre de Sharperville (69 mortos e 180 feridos), Mandela tornou-se um guerrilheiro da luta armada. Viveu quase um terço de sua vida (1962\1990) cumprindo a pena de prisão perpétua em cárceres insalubres (recusou revisão de pena e liberdade condicional) o que comprometeu sua saúde, mas fortaleceu sua capacidade de luta pelas ideias e princípios que sempre defendeu: a igualdade na diversidade humana e a liberdade diante da opressão.

Abertas as portas da prisão em fevereiro de 1990, aos 72 anos, “O longo caminho para liberdade” (título da sua autobiografia) transformara o guerrilheiro armado, o ativista, em estadista que, apenas, trocou de armas na luta pelos seus ideais. E o que é mais admirável: sua dimensão política e espiritual inspirou o gesto maior da grandeza humana que é foi o de reconciliar a nação eliminando o apartheid na África do Sul e, como primeiro presidente negro do seu país (1994\1999), operou o regime de transição da minoria, evitando com a força do exemplo e a legitimidade da autoridade moral que o ódio dos negros oprimidos pela dominação branca explodisse no ajuste de contas de guerra civil.

Em 1993, ganha o prêmio Nobel da Paz junto com o Presidente da África do Sul, Frederik de Klerk e em 2004, aos 84 anos, anuncia sua retirada da vida pública.

Entre tantos motivos de admiração o que mais me impressionou em Mandela é que nada, nem as provações políticas nem as tragédias pessoais, afetou a chama interior do entusiasmo e da alegria que moldaram sua missão.

Onde buscar explicação para o brilho da luz que ele carregava? Na solidez das convicções quando Mandela disse em 1964: “Durante minha vida inteira eu me dediquei a lutar pelo povo africano. Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação preta. Eu celebrei o ideal da democracia e da sociedade livre, que todas as pessoas vivam em harmonia e com oportunidades iguais. Isso é um ideal pelo qual eu espero viver para conseguir. Mas, por Deus, se for necessário, também um ideal pelo qual eu estou preparado para morrer”.

A humanidade está de luto. Há razões de sobra para a tristeza universal.

 

Postado por Priscila Krause às 18:01:44
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